Quero muito escrever e já nem sei sobre o quê. Fica difícil responder à pergunta “como estás?”, tantas são as emoções que me navegam diariamente, entre a tristeza e a alegria, entre o pessimismo e a esperança, entre o desespero e a leveza, assim vivo eu, entre dicotomias, entre extremos entre os quais saltito, sabendo onde me quero alojar, mas evitando forçar um destino ao qual o meu corpo não está ainda pronto para responder.
Sol. Acho que era disso que a minha alma precisava. Sol e dias quentes, para trazer ao meu corpo o calor e a alegria que ele próprio não estava a conseguir gerar. Mas ser alegre implica chorar, e é também isso que estou a aprender a fazer – a deixar fluir todas as lágrimas, sobre topos os tópicos necessários, durante o tempo que for preciso – e, ao contrário do que me é natural, sem qualquer tipo de julgamento sobre o tempo que demora, a razão (aparentemente) não fundamentada de algumas delas, sobre mim e sobre tudo o que sinto.
Sinto mais do que o comum, eu sei. Não vou dizer mais do que o normal, porque isto sempre foi normal em mim, e muito do que choro intensamente vivo e rejubilo de alegria exatamente com a mesma intensidade. Se por vezes gostava de ser mais neutra, mais estável no meu estado positivo? Bastantes. Mas sempre que tendo para lá, sinto-me aborrecida. Algo grita cá dentro com mais intensidade, algo me impede de ser ‘normal’, algo me diz que as possibilidades e os sonhos valem mais do que qualquer estabilidade ou segurança emocional que eu possa procurar. Talvez por isso não tenha a vida standard que as pessoas procuram ver em mim (que por vezes eu cometo o erro de procurar ver em mim, sabendo que não é isso que me alimenta a alma).
Ainda estou a definir aquilo que procuro – ou, melhor, a aprender a aceitar que o que procuro vai desiludir muitas pessoas e afastar umas quantas outras, porque no fundo eu sei o que é. Ainda me incomoda o julgamento que algumas pessoas fazem quando lhes dou a conhecer o meu lado frágil, por vezes despidos de empatia, sem a mínima noção do que vai cá dentro. Julgar é tão fácil quando não estamos na pele do outro, não é? Acho que foi das lições mais árduas que aprendi, também eu sempre nesta posição, como qualquer ser humano, de julgar aquilo que é diferente de mim, que não combina com os meus valores, que eu não faria.
Viver exige muita aceitação, carinho, paciência, tudo o que tendo a ter perante os outros, mas não comigo mesma. De tantos caminhos, respostas e soluções que procurei fora, encontro-me agora mais recolhida, em busca cá dentro. A testar (e redefinir) muitos dos meus limites, a fazer as coisas que antes me proibia de fazer. Há uma magia bonita quando o “tem de ser”, antes condicionado por pressões e padrões enraizados e isentos de reflexão crítica é substituído por um “tem de ser” estritamente assente nos nosso valores, quando os sabemos bem e de cor – de repente a vida flui e os obstáculos ou oportunidades ficam mais fácil de remover e/ou identificar, sob as lentes desta clareza que agora guia os nosso passos e jamais nos deixará ficar mal – porque não é de mais ninguém, mas só nossa, e essa é a maior sensação de controlo e segurança que poderemos alguma vez ter.